Amostra - Apenas querem se divertir (Vol. 2)

Primeiras páginas do livro "Apenas querem se Divertir 2. Assuntos pendentes"

Moura de Jesus

4/5/202539 min read

Parte I — Futuro

Cá estou novamente para dar continuidade àquela velha história. Parecia não haver mais o que contar, não faria mais sentido uma sequência após aquela tragédia. Entretanto, às vezes, precisamos considerar o futuro ou retomar o passado para entender certos comportamentos. Claro que pode não haver justificativas, mas sempre existem motivações. É por isso que devemos sCá estou novamente para dar continuidade àquela velha história. Parecia não haver mais o que contar, não faria mais sentido uma sequência após aquela tragédia. Entretanto, às vezes, precisamos considerar o futuro ou retomar o passado para entender certos comportamentos. Claro que pode não haver justificativas, mas sempre existem motivações. É por isso que devemos ser empáticos e mais brandos ou calados nos julgamentos. Esta é uma das regras básicas para manter nosso convívio harmonioso e nossa paz.

Começo a contar a história no ano de 2017, 30 anos depois do nascimento de Rubens. Tudo começa nos bastidores do Teatro Sérgio Cardoso em São Paulo, tia Teresa diz a todos os atores e realizadores que fazem parte da peça que está dirigindo:

— Gente, daqui a pouco o espetáculo vai começar! Muito obrigado a todos vocês! Hoje vamos arrasar!

O pessoal aplaude pelo trabalho árduo de todos.

Milena com seu figurino, pega nas mãos da tia, beija-as, dizendo:

— Eu que te agradeço, tia. Hoje só estou aqui graças a você!

A casa estava lotada, a peça foi apresentada. Escrita por Popy Sousa, a obra retratava a dura realidade de uma mulher que viveu na favela, enfrentando violência doméstica e sofrendo os impactos da violência urbana. Sua luta por um futuro melhor se transformou numa jornada de superação, expressa com muita poesia e arte. O público se envolveu com a intensa interpretação de Milena, uma atriz dedicada e notória.

A cortina se fechou, levando consigo os aplausos e a energia da plateia. Restava apenas Milena, no canto escuro do camarim, demaquilando-se em frente a um espelho rodeado de lâmpadas quentes. De repente, uma mulher desconhecida surge da escuridão e ilumina-se ao passar pela porta e Milena a vê pelo reflexo do espelho. A mulher a chama.

— Milena?

— Olá — respondeu sorrindo e falando pelo reflexo, mas preocupada.

— Bom, antes de tudo quero parabenizar pelo seu trabalho de hoje!

— Ah, muito obrigada!

— Mas aqui hoje eu vim porque te devo desculpas...

— Eu te conheço? — perguntou virando-se e agora falando com a verdadeira imagem.

— Conhece, não nos falamos muito, talvez só numa festa que você e seu irmão deram na sua casa…

Milena fica tão curiosa, há tempos não ouvia alguém falar de seu irmão. E a mulher misteriosa continua:

— ...,mas você sabe quem sou — fez uma pausa e engoliu seco, mas continuou —, me chamo Fabiana.

Na hora, a cara de Milena se fecha.

— Sabia que essa cara de seriema não me era estranha!... E sei o suficiente sobre você, tem muita coisa no livro que o Guga escreveu.

— Muito sobre mim naquele livro não é verdade.

— Mas a pior coisa que você fez, infelizmente é verdade, sim! Então o resto não importa!

— Bem... Eu sei que isso não vai trazer seu irmão de volta, mas me arrependi do que fiz...

— Que bom que você se arrependeu ainda viva! Deveria ter-se arrependido muito antes, antes de fazer tudo aquilo a meu irmão! Agora ele não está mais entre nós, morreu, não existe mais…

— Não existe mais daqui para o futuro, mas ainda vive na memória de cada um que o conheceu e para sempre no tempo que viveu…

A respeito de Fabiana, Milena possuía sentimentos rasos e profundos. Mas já os havia esquecido lá no passado, então desistiu de brigar.

— Tá bom! Pare de falar essas coisas que depois à noite não consigo dormir e fico filosofando...

— Mas então você me perdoa?

— Já superei isso, não guardo rancor de você, considere como um tipo de perdão... Mas não quero sua aproximação, muito menos sua amizade…

A mão fria é levada à face fervente de Fabiana que começa a enxugar as lágrimas.

— Antes de eu ir embora, me dê um abraço...

As duas se abraçam e choram. Calores são trocados e corações aceleram. Teresa entra no camarim, não entende a cena. Abraço desfeito, Fabiana só diz oi a Teresa e sai choramingando.

— Tia, essa era a Fabiana que tinha feito tudo aquilo pro Rubinho. Ela veio pedir perdão.

As duas se abraçam sentindo saudades de Ru e Teresa diz:

— Mile, o que você fez foi muito lindo, a Fabiana aprendeu uma grande lição, que existem pessoas boas capazes de perdoar. Ela deve ter apanhado muito da vida para ter tido a humildade de vir pedir perdão. Talvez se ela tivesse aprendido lá atrás, a história teria sido outra — respirou um pouco para oxigenar a mente e tentou se colocar no lugar da criatura. — Mas a gente não conhece a história dela, pode ter sido mimada e malcriada, não ter tido atenção de pais fúteis “barra” ocupados, ou ter-se amargurado por algo ruim que lhe aconteceu… Vai saber o que se passa naquela cabecinha!

Na verdade, foi tudo isso e muito mais!

Milena se lembra da conversa que teve com o irmão há muitos anos, depois conta para Teresa:

— Por falar no meu irmão, sabe duma coisa interessante, tia? O Rubinho acreditava convictamente em viagem no tempo... Ele dizia que não era possível viajarmos fisicamente com uma máquina porque não temos ainda tecnologia, mas que nossa consciência, ou o que ele chamava de subconsciência, pode viajar…

— Eu hein! depois eu que sou a doida da família! — exclamou rindo e concluiu. — Mas uma coisa é verdade, o Rubinho era bastante observador...

— Sim! às vezes meio conspiracionista, mas muitas vezes tinha razão!

— Tomara que seja verdade! Eu queria muito voltar ao passado, reviver os momentos felizes para apenas me divertir!...

er empáticos e mais brandos ou calados nos julgamentos. Esta é uma das regras básicas para manter nosso convívio harmonioso e nossa paz.

Começo a contar a história no ano de 2017, 30 anos depois do nascimento de Rubens. Tudo começa nos bastidores do Teatro Sérgio Cardoso em São Paulo, tia Teresa diz a todos os atores e realizadores que fazem parte da peça que está dirigindo:

— Gente, daqui a pouco o espetáculo vai começar! Muito obrigado a todos vocês! Hoje vamos arrasar!

O pessoal aplaude pelo trabalho árduo de todos.

Milena com seu figurino, pega nas mãos da tia, beija-as, dizendo:

— Eu que te agradeço, tia. Hoje só estou aqui graças a você!

A casa estava lotada, a peça foi apresentada. Escrita por Popy Sousa, a obra retratava a dura realidade de uma mulher que viveu na favela, enfrentando violência doméstica e sofrendo os impactos da violência urbana. Sua luta por um futuro melhor se transformou numa jornada de superação, expressa com muita poesia e arte. O público se envolveu com a intensa interpretação de Milena, uma atriz dedicada e notória.

A cortina se fechou, levando consigo os aplausos e a energia da plateia. Restava apenas Milena, no canto escuro do camarim, demaquilando-se em frente a um espelho rodeado de lâmpadas quentes. De repente, uma mulher desconhecida surge da escuridão e ilumina-se ao passar pela porta e Milena a vê pelo reflexo do espelho. A mulher a chama.

— Milena?

— Olá — respondeu sorrindo e falando pelo reflexo, mas preocupada.

— Bom, antes de tudo quero parabenizar pelo seu trabalho de hoje!

— Ah, muito obrigada!

— Mas aqui hoje eu vim porque te devo desculpas...

— Eu te conheço? — perguntou virando-se e agora falando com a verdadeira imagem.

— Conhece, não nos falamos muito, talvez só numa festa que você e seu irmão deram na sua casa…

Milena fica tão curiosa, há tempos não ouvia alguém falar de seu irmão. E a mulher misteriosa continua:

— ...,mas você sabe quem sou — fez uma pausa e engoliu seco, mas continuou —, me chamo Fabiana.

Na hora, a cara de Milena se fecha.

— Sabia que essa cara de seriema não me era estranha!... E sei o suficiente sobre você, tem muita coisa no livro que o Guga escreveu.

— Muito sobre mim naquele livro não é verdade.

— Mas a pior coisa que você fez, infelizmente é verdade, sim! Então o resto não importa!

— Bem... Eu sei que isso não vai trazer seu irmão de volta, mas me arrependi do que fiz...

— Que bom que você se arrependeu ainda viva! Deveria ter-se arrependido muito antes, antes de fazer tudo aquilo a meu irmão! Agora ele não está mais entre nós, morreu, não existe mais…

— Não existe mais daqui para o futuro, mas ainda vive na memória de cada um que o conheceu e para sempre no tempo que viveu…

A respeito de Fabiana, Milena possuía sentimentos rasos e profundos. Mas já os havia esquecido lá no passado, então desistiu de brigar.

— Tá bom! Pare de falar essas coisas que depois à noite não consigo dormir e fico filosofando...

— Mas então você me perdoa?

— Já superei isso, não guardo rancor de você, considere como um tipo de perdão... Mas não quero sua aproximação, muito menos sua amizade…

A mão fria é levada à face fervente de Fabiana que começa a enxugar as lágrimas.

— Antes de eu ir embora, me dê um abraço...

As duas se abraçam e choram. Calores são trocados e corações aceleram. Teresa entra no camarim, não entende a cena. Abraço desfeito, Fabiana só diz oi a Teresa e sai choramingando.

— Tia, essa era a Fabiana que tinha feito tudo aquilo pro Rubinho. Ela veio pedir perdão.

As duas se abraçam sentindo saudades de Ru e Teresa diz:

— Mile, o que você fez foi muito lindo, a Fabiana aprendeu uma grande lição, que existem pessoas boas capazes de perdoar. Ela deve ter apanhado muito da vida para ter tido a humildade de vir pedir perdão. Talvez se ela tivesse aprendido lá atrás, a história teria sido outra — respirou um pouco para oxigenar a mente e tentou se colocar no lugar da criatura. — Mas a gente não conhece a história dela, pode ter sido mimada e malcriada, não ter tido atenção de pais fúteis “barra” ocupados, ou ter-se amargurado por algo ruim que lhe aconteceu… Vai saber o que se passa naquela cabecinha!

Na verdade, foi tudo isso e muito mais!

Milena se lembra da conversa que teve com o irmão há muitos anos, depois conta para Teresa:

— Por falar no meu irmão, sabe duma coisa interessante, tia? O Rubinho acreditava convictamente em viagem no tempo... Ele dizia que não era possível viajarmos fisicamente com uma máquina porque não temos ainda tecnologia, mas que nossa consciência, ou o que ele chamava de subconsciência, pode viajar…

— Eu hein! depois eu que sou a doida da família! — exclamou rindo e concluiu. — Mas uma coisa é verdade, o Rubinho era bastante observador...

— Sim! às vezes meio conspiracionista, mas muitas vezes tinha razão!

— Tomara que seja verdade! Eu queria muito voltar ao passado, reviver os momentos felizes para apenas me divertir!...

Prólogo — A espectadora

Parte II — Passado

Sim! É possível voltar no tempo! Existe essa possibilidade pelo menos na ficção. Mas não é da forma que você imagina, é apenas sobre as ordens dos fatos. Vamos viajar e conhecer o que ocorreu há algum tempo.

Inicialmente não voltaremos tão ao passado como em 1986, o ano do nascimento de Fabiana; voltaremos ao ano de 2002 em que coisas decisivas ocorreram em sua vida que a marcaria para sempre.

Tudo começa no feriado de carnaval, Fabiana estava na chácara de sua tia. Sua melhor amiga é a sua “prima irmã”, Sabrina. As duas são carne e unha, amam estar juntas e saem para badalar. Apenas querem se divertir. Elas nasceram no mesmo ano e têm quase 16 anos. São fãs de Britney Spears e KLB, ficam horas no quarto fechado ouvindo o CD deles, cantando ou treinando as coreografias.

Fabiana Costa Freitas, com seu lindo sorriso e olhar envolvente irradia autenticidade e confiança. É uma garota perspicaz, sempre atenta aos detalhes que escapam aos outros, mas também um pouco metida, pois não hesita em expressar suas opiniões com fervor e superioridade. Seu estilo moderno e atitude descolada a destacam em qualquer ambiente, tornando-a uma presença marcante, ainda mais porque faz questão de ser o centro das atenções. Tem cabelos castanhos, longos e ondulados, não é tão alta, porém seu corpo já aparenta uma mulher.

Sabrina da Costa Lopes, amável e querida por todos ao seu redor, é uma jovem vivaz. Descreve-se como uma gordinha feliz, mas, por trás de sua aparente autoconfiança, guarda consigo o descontento com sua aparência. De pele morena e olhos castanhos, cheios de empatia e curiosidade. Os belos cabelos lisos, compridos e castanhos, muitas vezes usados como um véu para esconder-se dos julgamentos ferozes da sociedade.

Já se passa um pouco do meio-dia, Fabiana e Sabrina dormem no quarto desta. Ontem foram a uma festa de carnaval. Mesmo com a janela veneziana de aço fechada, a penumbra está com a claridade máxima e o ambiente parece iluminado por um abajur potente. Fabiana acorda num colchão de solteiro posto ao lado da cama da prima, levanta-se e fica alguns minutos sentada, ainda despertando-se; assim que a preguiça se vai, ela vê que a prima ainda dorme profundamente e então dá um puxão em seu pé. Sabrina acorda aos berros e Fabiana se acaba nas gargalhadas.

Ao levantarem-se, sentem-se tontas, Sabrina com dor de cabeça, tudo flutuava ao redor. A ressaca era forte, porém, a fome e a sede eram maiores. Sem arrumarem a bagunça daquele quarto, nem pelo menos fazer as camas, as duas vão vorazmente à cozinha comer qualquer alimento que estivesse à disposição.

Chegando à cozinha, tia Glória, irmã da mãe de Fabiana, já estava preparando o almoço. Quando ela vê as meninas de cabelos emaranhados e olheiras profundas, já adivinha o que acontecera na noite anterior.

— Bom dia, meninas, a festa foi boa ontem?

Mal respondem, Sabrina abre a geladeira, pega a garrafa de água trincando de gelada e enche um copo para si e um para a prima, bebem o conteúdo num gole só.

Tia Glória repara:

— Nossa, que olhos de ressaca!

Fabiana responde:

— Obrigada, um elogio à Machado de Assis logo de manhã.

— Não. Os olhos de Capitu são ressaca do mar, os seus olhos são de pinguça mesmo.

— Que chata você! “Cigana dissimulada”! — aqui podemos ver como Fabiana foi aprendendo a ser cínica e desagradável anos mais tarde.

Elas riem e a tia comenta:

— Seus pais estão pagando uma escola muito boa para você, Fabi. Tem que aproveitar muito bem essa oportunidade.

— Minha escola é muito boa mesmo porque é cara! Mas é muito puxada! Estudo demais para tirar boas notas, estou exausta!

— Faz mais do que sua obrigação! Você não trabalha…

— Uma coisa é obrigação, tia. Outra, é ter que tentar atingir as notas do Tuca! Meus pais ficam pegando no meu pé, dizem que se eu não estudar como ele não vou ser ninguém na vida... Vêm com papinho, tipo, eles pagam uma escola boa, no mínimo tenho que entrar numa universidade pública. Se meu irmão entrou na USP, é meu dever obter o mesmo êxito!

— Eles fazem isso para o seu bem!

— Estão acabando com minha beleza e juventude! Além disso, eu não quero fazer faculdade difícil! Eu quero entrar numa só para ter um diploma e aí finalmente posso pensar em trabalhar porque não nasci para ser uma qualquer!

Enquanto as duas conversavam, Sabrina já comeu um pão francês inteiro. Sua mãe continua a conversa com Fabi:

— Eu não posso pagar uma escola para minha filha, ela estuda numa escola pública, mas é uma escola boa... Como fica no centro que é longe daqui, já tenho gasto com transporte, cursos complementares. Ela também tem que estudar muito, viu!

Já no segundo pão, Sabrina complementa o que a mãe falava:

— Eu gosto da minha escola, os colegas são legais, a maioria dos professores e funcionários da escola são gente boa. Acho que você iria gostar de lá, Fabi…

Até parece que Sabrina não conhece a prima esnobe que tem…

— Deus que me livre! Não entro em escola pública de jeito nenhum, tenho medo do povo que estuda lá! — disse Fabiana com uma vozinha ardida.

— Não seja esnobe, Fabi! — disse Sabrina inconformada. — Eu também estudo lá! Sua arrogante!... E tem tanto gatinho que você iria se amarrar!

— Nem morta! Eu não me amarro em pobre, não!

— Pura viagem! Você não sabe o que está dizendo! Cola lá e verá os caras mais gatos! São mais gatos do que os engomadinhos do seu nível!

— Tô fora! Pegue todos para você e faça bom proveito!

Tia Glória e Sabrina apenas riem, já estão acostumadas com a petulância, arrogância e queixas de Fabiana, por isso não debatem muito com ela. Apesar de todos os defeitos, elas amam essa parenta adorável.

Glória é uma mulher simples, diferente de sua irmã, Kátia, que é mãe de Fabiana. Cuida de sua família com muito amor e dedicação! Tem amor pelo seu lar, seu cantinho no mundo, e deixa tudo bem arrumado, organizado, decorado e limpo. Escolheu viver no campo porque gosta do contato com a natureza, os seus sons, luzes e cheiros, cuidando bem do jardim e dos animais. Viúva, uma quase cinquentona bonita e corpulenta, justamente se veste como dona de casa: um vestido de flor, uma sapatilha e usa preso o cabelo tingido de louro escuro. É uma excelente cozinheira, das de mão cheia!

O almoço fica pronto e as primas devoram-no. Assim que terminam, rumam ao quarto. No meio do caminho, passando pela sala, Sabrina pega o telefone sem fio às escondidas. Com a porta fechada, ela liga para uma amiga, convidando-a para vir nadar na piscina de sua casa.

É o dever de Sabrina arrumar o quarto, então ela liga o micro system para ouvir uma música e tornar a tarefa mais prazerosa. Fabiana apenas fica sentada esperando a prima terminar, não dobra nem o lençol que usou para se cobrir.

Quando o quarto já está arrumadinho, elas põem roupas de banho, passam protetor solar e por volta da uma e meia da tarde já estão à beira da piscina.

Sob aquele sol irradiante, a piscina cintilava frescor, um oásis azul naquela tarde de verão. A paineira da chácara vizinha sombreava uma parte da piscina e do chão ao redor da piscina. Ali era onde quem não gostava muito do sol poderia ficar. Porém, as duas queriam torrar naquela radiação toda, pegar um bronze e curtir o calor.

— Meninas, passaram protetor? — perguntou-lhes, tia Glória. — Olhem esse sol!

— Claro, mãe! Vamos aproveitar porque só tem chovido!

— Hoje vocês vão aproveitar! Vocês ainda têm uma tarde inteira!

Elas aproveitam a deixa e começam a cantar o trecho de “Malandragem” a partir dali:

— “E eu ainda tenho uma tarde inteira”...

Tibum! Mergulham na água fresquinha, seus risos ecoavam alegria, seus cabelos flutuavam submersos como algas dançantes. O tempo desacelerou enquanto a tarde envolvia de calor aquele momento de felicidade.

Não se passaram nem 20 minutos e já pairava sobre o lugar uma nuvem escura e densa, projetando uma imensa sombra que cobria toda a vizinhança, parecendo que o mundo fosse acabar.

— Sábri, será que vai chover? Se cair toda essa água, a gente terá que sair da piscina.

— Ah, Fabi! Tá tão quente, vamos continuar aqui. Aposto que não vai chover!

E acertou a aposta! Em meia hora a nuvem se desfez, um céu limpo se revelou novamente e o Sol sorriu seus raios escaldantes em todas as direções.

***

Por volta das 3h15, um carro parou em frente à chácara e um trio de adolescentes foi deixado. O adulto que os trouxe, nem os esperou terem certeza de que estavam no local certo, apenas os despachou e foi-se embora. O grupinho é formado por Alessandra, mais conhecida como Leka, Carla e Lúcio. Apenas Carla era amiga de Sabrina, mas ela trouxe seu ficante e de brinde, a prima, porque ela não pode ficar sozinha com o namoradinho de acordo com as regras de sua mãe.

Carla tem também 16 anos, gordinha, cabelos louros e uma cara de quem só apronta.

Lúcio, um menino magro e alto de 17 anos, bonito, mas tem uma cara de peixe perdido no aquário.

Leka, uma menina esbelta de 16 anos, mais alta que as meninas de sua idade, sardentinha e de cabelos castanhos claros.

Tia Glória foi pega de surpresa com essa visita, mas deixa os jovens entrarem, quem se veria com ela mais tarde seria Sabrina. Educadamente indica-lhes a direção da área da piscina, mas não os acompanha. Ao se aproximarem, sentem o cheiro da grama recém-cortada e do cloro que exala da água, ouvem os murmúrios da água agitada acompanhados de cochichos e gargalhadas das uiaras. Sabrina os vê e acena de dentro da água.

Como nem todos eles se conhecem, os olhares apresentam uma mistura de curiosidade e julgamentos, questionando-se o que estão prestes a vivenciar.

— E aí, pessoal! — Carla cumprimentou, fazendo um gesto descontraído com a mão.

Seus dois acompanhantes também acenam com entusiasmo, e as sereias sorriem com os cabelos molhados e grudados suavemente no rosto.

— Que bom que vocês chegaram! Pra quem não me conhece, eu sou a Sabrina e ninguém deve conhecer a Fabi, minha prima. Fabi, essa é a minha amiga Carla e os seus amigos.

Fabi acena timidamente, mas com um sorriso ressabiado que denuncia sua curiosidade e desaprovação.

— Oi — ela murmurou.

As introduções foram rápidas, e num piscar de olhos, todos estão na piscina, mergulhados na água fresca e esquecendo o calor abrasador do lado de fora. A música no micro system que está sobre uma cadeira de plástico, as risadas dos jovens e os jogos improvisados na água criam uma atmosfera de diversão sem fim.

Carla conta como conheceu Lúcio; Leka conta das aventuras e confusões com a prima e Fabiana conta… …vantagens… Por isso não consegue se enturmar. Só sabe queixar-se de tudo. Foi tão chata que acaba ficando deslocada, isolada.

De repente, sai da piscina e exclama:

— A tua piscina tá cheia de chatos!

Na realidade, a chata era ela, e senta-se um pouco longe para a água escorrer de seu corpo. Sabrina diz para o ambiente não ficar tão carregado:

— “Tuas ideias não correspondem aos fatos!” — e todos riram do trocadilho à Cazuza.

A situação ficou estranha e sem graça, então todos resolvem chamar Fabiana para retornar à piscina. Foi aí que ela adorou, todos adulando-a e bajulando-a, sente-se preciosa e única. Volta à piscina desfilando com o gracejo de uma garça pisoteando o brejo. Adentra a água e todos sentem-se menos culpados, mas no fundo acham-na uma chata e mimada.

Leka aproxima-se e tenta extrair algum sumo daquela casca grossa que é Fabiana. Apesar de todos os males, é uma jovem querendo conquistar seu lugar ao sol, aspira novos ares, amizades, ampliar seus círculos sociais. E foi abrindo fissuras e deixando conhecê-la mais. No fim da tarde estão amigas, cheias de brincadeirinhas e risinhos num canto da piscina.

Entre as conversas daqueles adolescentes surge o papo sobre raves. A época é de uma explosão de músicas eletrônicas, o movimento techno e psy trance no seu auge e todos dançando ao ritmo das músicas mais extravagantes até fritarem os pés… e as cabeças…

— Mano do céu! Aqui perto da sua casa, Sabrina, tem uma chácara onde algumas vezes no mês rola uma rave da hora, fritadeira! — disse todo empolgado, Lúcio.

— Eu sei onde é, é a chácara da Biga, ela é amiga da minha mãe! Não é tão pertinho assim, tem que passar o canavial; mas ela aproveita que é a chácara mais isolada da região e faz eventos para ganhar uma bufunfa e sem incomodar os vizinhos! Se eu fizer uma festa dessas por aqui, os vizinhos aparecem com pás, rastelos e tochas querendo me trucidar!

— Na verdade, tua mãe te trucida primeiro — disse Fabiana e todos riem.

— Galera, bora todos pra essa festa? — sugeriu Carla.

— Quando vai rolar a próxima? — perguntou Leka diretamente a Lúcio.

— Se pá, será no próximo sábado, na verdade começa na sexta à noite e se estende até a madrugada de sábado, quer dizer, já é domingo quando acaba — detalhou Lúcio.

— Santa mãe de deus! — exclamou Sabrina — haja pique!

— Como você é velha, você vai aguentar, sim! — incentivou, Carla.

— Vou aproveitar que ainda tem uma semana e vou comprar um sapato novo! — adivinhe de quem foi essa fala? Sim, da Fabiana!

No refrescante fim de tarde à beira da piscina, os destinos de cinco adolescentes se conectam. Aquele encontro casual transforma-se em algo mais profundo, algumas amizades a florescer que prometiam aventuras e descobertas. Sob o crepúsculo alaranjado e o poente como testemunha, eles selam o compromisso de se reencontrar na próxima semana, prontos para se entregarem à batida eletrizante de uma rave repleta de magia.

é apenas sobre as ordens dos fatos. Vamos viajar e conhecer o que ocorreu há algum tempo.

Inicialmente não voltaremos tão ao passado como em 1986, o ano do nascimento de Fabiana; voltaremos ao ano de 2002 em que coisas decisivas ocorreram em sua vida que a marcaria para sempre.

Tudo começa no feriado de carnaval, Fabiana estava na chácara de sua tia. Sua melhor amiga é a sua “prima irmã”, Sabrina. As duas são carne e unha, amam estar juntas e saem para badalar. Apenas querem se divertir. Elas nasceram no mesmo ano e têm quase 16 anos. São fãs de Britney Spears e KLB, ficam horas no quarto fechado ouvindo o CD deles, cantando ou treinando as coreografias.

Fabiana Costa Freitas, com seu lindo sorriso e olhar envolvente irradia autenticidade e confiança. É uma garota perspicaz, sempre atenta aos detalhes que escapam aos outros, mas também um pouco metida, pois não hesita em expressar suas opiniões com fervor e superioridade. Seu estilo moderno e atitude descolada a destacam em qualquer ambiente, tornando-a uma presença marcante, ainda mais porque faz questão de ser o centro das atenções. Tem cabelos castanhos, longos e ondulados, não é tão alta, porém seu corpo já aparenta uma mulher.

Sabrina da Costa Lopes, amável e querida por todos ao seu redor, é uma jovem vivaz. Descreve-se como uma gordinha feliz, mas, por trás de sua aparente autoconfiança, guarda consigo o descontento com sua aparência. De pele morena e olhos castanhos, cheios de empatia e curiosidade. Os belos cabelos lisos, compridos e castanhos, muitas vezes usados como um véu para esconder-se dos julgamentos ferozes da sociedade.

Já se passa um pouco do meio-dia, Fabiana e Sabrina dormem no quarto desta. Ontem foram a uma festa de carnaval. Mesmo com a janela veneziana de aço fechada, a penumbra está com a claridade máxima e o ambiente parece iluminado por um abajur potente. Fabiana acorda num colchão de solteiro posto ao lado da cama da prima, levanta-se e fica alguns minutos sentada, ainda despertando-se; assim que a preguiça se vai, ela vê que a prima ainda dorme profundamente e então dá um puxão em seu pé. Sabrina acorda aos berros e Fabiana se acaba nas gargalhadas.

Ao levantarem-se, sentem-se tontas, Sabrina com dor de cabeça, tudo flutuava ao redor. A ressaca era forte, porém, a fome e a sede eram maiores. Sem arrumarem a bagunça daquele quarto, nem pelo menos fazer as camas, as duas vão vorazmente à cozinha comer qualquer alimento que estivesse à disposição.

Chegando à cozinha, tia Glória, irmã da mãe de Fabiana, já estava preparando o almoço. Quando ela vê as meninas de cabelos emaranhados e olheiras profundas, já adivinha o que acontecera na noite anterior.

— Bom dia, meninas, a festa foi boa ontem?

Mal respondem, Sabrina abre a geladeira, pega a garrafa de água trincando de gelada e enche um copo para si e um para a prima, bebem o conteúdo num gole só.

Tia Glória repara:

— Nossa, que olhos de ressaca!

Fabiana responde:

— Obrigada, um elogio à Machado de Assis logo de manhã.

— Não. Os olhos de Capitu são ressaca do mar, os seus olhos são de pinguça mesmo.

— Que chata você! “Cigana dissimulada”! — aqui podemos ver como Fabiana foi aprendendo a ser cínica e desagradável anos mais tarde.

Elas riem e a tia comenta:

— Seus pais estão pagando uma escola muito boa para você, Fabi. Tem que aproveitar muito bem essa oportunidade.

— Minha escola é muito boa mesmo porque é cara! Mas é muito puxada! Estudo demais para tirar boas notas, estou exausta!

— Faz mais do que sua obrigação! Você não trabalha…

— Uma coisa é obrigação, tia. Outra, é ter que tentar atingir as notas do Tuca! Meus pais ficam pegando no meu pé, dizem que se eu não estudar como ele não vou ser ninguém na vida... Vêm com papinho, tipo, eles pagam uma escola boa, no mínimo tenho que entrar numa universidade pública. Se meu irmão entrou na USP, é meu dever obter o mesmo êxito!

— Eles fazem isso para o seu bem!

— Estão acabando com minha beleza e juventude! Além disso, eu não quero fazer faculdade difícil! Eu quero entrar numa só para ter um diploma e aí finalmente posso pensar em trabalhar porque não nasci para ser uma qualquer!

Enquanto as duas conversavam, Sabrina já comeu um pão francês inteiro. Sua mãe continua a conversa com Fabi:

— Eu não posso pagar uma escola para minha filha, ela estuda numa escola pública, mas é uma escola boa... Como fica no centro que é longe daqui, já tenho gasto com transporte, cursos complementares. Ela também tem que estudar muito, viu!

Já no segundo pão, Sabrina complementa o que a mãe falava:

— Eu gosto da minha escola, os colegas são legais, a maioria dos professores e funcionários da escola são gente boa. Acho que você iria gostar de lá, Fabi…

Até parece que Sabrina não conhece a prima esnobe que tem…

— Deus que me livre! Não entro em escola pública de jeito nenhum, tenho medo do povo que estuda lá! — disse Fabiana com uma vozinha ardida.

— Não seja esnobe, Fabi! — disse Sabrina inconformada. — Eu também estudo lá! Sua arrogante!... E tem tanto gatinho que você iria se amarrar!

— Nem morta! Eu não me amarro em pobre, não!

— Pura viagem! Você não sabe o que está dizendo! Cola lá e verá os caras mais gatos! São mais gatos do que os engomadinhos do seu nível!

— Tô fora! Pegue todos para você e faça bom proveito!

Tia Glória e Sabrina apenas riem, já estão acostumadas com a petulância, arrogância e queixas de Fabiana, por isso não debatem muito com ela. Apesar de todos os defeitos, elas amam essa parenta adorável.

Glória é uma mulher simples, diferente de sua irmã, Kátia, que é mãe de Fabiana. Cuida de sua família com muito amor e dedicação! Tem amor pelo seu lar, seu cantinho no mundo, e deixa tudo bem arrumado, organizado, decorado e limpo. Escolheu viver no campo porque gosta do contato com a natureza, os seus sons, luzes e cheiros, cuidando bem do jardim e dos animais. Viúva, uma quase cinquentona bonita e corpulenta, justamente se veste como dona de casa: um vestido de flor, uma sapatilha e usa preso o cabelo tingido de louro escuro. É uma excelente cozinheira, das de mão cheia!

O almoço fica pronto e as primas devoram-no. Assim que terminam, rumam ao quarto. No meio do caminho, passando pela sala, Sabrina pega o telefone sem fio às escondidas. Com a porta fechada, ela liga para uma amiga, convidando-a para vir nadar na piscina de sua casa.

É o dever de Sabrina arrumar o quarto, então ela liga o micro system para ouvir uma música e tornar a tarefa mais prazerosa. Fabiana apenas fica sentada esperando a prima terminar, não dobra nem o lençol que usou para se cobrir.

Quando o quarto já está arrumadinho, elas põem roupas de banho, passam protetor solar e por volta da uma e meia da tarde já estão à beira da piscina.

Sob aquele sol irradiante, a piscina cintilava frescor, um oásis azul naquela tarde de verão. A paineira da chácara vizinha sombreava uma parte da piscina e do chão ao redor da piscina. Ali era onde quem não gostava muito do sol poderia ficar. Porém, as duas queriam torrar naquela radiação toda, pegar um bronze e curtir o calor.

— Meninas, passaram protetor? — perguntou-lhes, tia Glória. — Olhem esse sol!

— Claro, mãe! Vamos aproveitar porque só tem chovido!

— Hoje vocês vão aproveitar! Vocês ainda têm uma tarde inteira!

Elas aproveitam a deixa e começam a cantar o trecho de “Malandragem” a partir dali:

— “E eu ainda tenho uma tarde inteira”...

Tibum! Mergulham na água fresquinha, seus risos ecoavam alegria, seus cabelos flutuavam submersos como algas dançantes. O tempo desacelerou enquanto a tarde envolvia de calor aquele momento de felicidade.

Não se passaram nem 20 minutos e já pairava sobre o lugar uma nuvem escura e densa, projetando uma imensa sombra que cobria toda a vizinhança, parecendo que o mundo fosse acabar.

— Sábri, será que vai chover? Se cair toda essa água, a gente terá que sair da piscina.

— Ah, Fabi! Tá tão quente, vamos continuar aqui. Aposto que não vai chover!

E acertou a aposta! Em meia hora a nuvem se desfez, um céu limpo se revelou novamente e o Sol sorriu seus raios escaldantes em todas as direções.

***

Por volta das 3h15, um carro parou em frente à chácara e um trio de adolescentes foi deixado. O adulto que os trouxe, nem os esperou terem certeza de que estavam no local certo, apenas os despachou e foi-se embora. O grupinho é formado por Alessandra, mais conhecida como Leka, Carla e Lúcio. Apenas Carla era amiga de Sabrina, mas ela trouxe seu ficante e de brinde, a prima, porque ela não pode ficar sozinha com o namoradinho de acordo com as regras de sua mãe.

Carla tem também 16 anos, gordinha, cabelos louros e uma cara de quem só apronta.

Lúcio, um menino magro e alto de 17 anos, bonito, mas tem uma cara de peixe perdido no aquário.

Leka, uma menina esbelta de 16 anos, mais alta que as meninas de sua idade, sardentinha e de cabelos castanhos claros.

Tia Glória foi pega de surpresa com essa visita, mas deixa os jovens entrarem, quem se veria com ela mais tarde seria Sabrina. Educadamente indica-lhes a direção da área da piscina, mas não os acompanha. Ao se aproximarem, sentem o cheiro da grama recém-cortada e do cloro que exala da água, ouvem os murmúrios da água agitada acompanhados de cochichos e gargalhadas das uiaras. Sabrina os vê e acena de dentro da água.

Como nem todos eles se conhecem, os olhares apresentam uma mistura de curiosidade e julgamentos, questionando-se o que estão prestes a vivenciar.

— E aí, pessoal! — Carla cumprimentou, fazendo um gesto descontraído com a mão.

Seus dois acompanhantes também acenam com entusiasmo, e as sereias sorriem com os cabelos molhados e grudados suavemente no rosto.

— Que bom que vocês chegaram! Pra quem não me conhece, eu sou a Sabrina e ninguém deve conhecer a Fabi, minha prima. Fabi, essa é a minha amiga Carla e os seus amigos.

Fabi acena timidamente, mas com um sorriso ressabiado que denuncia sua curiosidade e desaprovação.

— Oi — ela murmurou.

As introduções foram rápidas, e num piscar de olhos, todos estão na piscina, mergulhados na água fresca e esquecendo o calor abrasador do lado de fora. A música no micro system que está sobre uma cadeira de plástico, as risadas dos jovens e os jogos improvisados na água criam uma atmosfera de diversão sem fim.

Carla conta como conheceu Lúcio; Leka conta das aventuras e confusões com a prima e Fabiana conta… …vantagens… Por isso não consegue se enturmar. Só sabe queixar-se de tudo. Foi tão chata que acaba ficando deslocada, isolada.

De repente, sai da piscina e exclama:

— A tua piscina tá cheia de chatos!

Na realidade, a chata era ela, e senta-se um pouco longe para a água escorrer de seu corpo. Sabrina diz para o ambiente não ficar tão carregado:

— “Tuas ideias não correspondem aos fatos!” — e todos riram do trocadilho à Cazuza.

A situação ficou estranha e sem graça, então todos resolvem chamar Fabiana para retornar à piscina. Foi aí que ela adorou, todos adulando-a e bajulando-a, sente-se preciosa e única. Volta à piscina desfilando com o gracejo de uma garça pisoteando o brejo. Adentra a água e todos sentem-se menos culpados, mas no fundo acham-na uma chata e mimada.

Leka aproxima-se e tenta extrair algum sumo daquela casca grossa que é Fabiana. Apesar de todos os males, é uma jovem querendo conquistar seu lugar ao sol, aspira novos ares, amizades, ampliar seus círculos sociais. E foi abrindo fissuras e deixando conhecê-la mais. No fim da tarde estão amigas, cheias de brincadeirinhas e risinhos num canto da piscina.

Entre as conversas daqueles adolescentes surge o papo sobre raves. A época é de uma explosão de músicas eletrônicas, o movimento techno e psy trance no seu auge e todos dançando ao ritmo das músicas mais extravagantes até fritarem os pés… e as cabeças…

— Mano do céu! Aqui perto da sua casa, Sabrina, tem uma chácara onde algumas vezes no mês rola uma rave da hora, fritadeira! — disse todo empolgado, Lúcio.

— Eu sei onde é, é a chácara da Biga, ela é amiga da minha mãe! Não é tão pertinho assim, tem que passar o canavial; mas ela aproveita que é a chácara mais isolada da região e faz eventos para ganhar uma bufunfa e sem incomodar os vizinhos! Se eu fizer uma festa dessas por aqui, os vizinhos aparecem com pás, rastelos e tochas querendo me trucidar!

— Na verdade, tua mãe te trucida primeiro — disse Fabiana e todos riem.

— Galera, bora todos pra essa festa? — sugeriu Carla.

— Quando vai rolar a próxima? — perguntou Leka diretamente a Lúcio.

— Se pá, será no próximo sábado, na verdade começa na sexta à noite e se estende até a madrugada de sábado, quer dizer, já é domingo quando acaba — detalhou Lúcio.

— Santa mãe de deus! — exclamou Sabrina — haja pique!

— Como você é velha, você vai aguentar, sim! — incentivou, Carla.

— Vou aproveitar que ainda tem uma semana e vou comprar um sapato novo! — adivinhe de quem foi essa fala? Sim, da Fabiana!

No refrescante fim de tarde à beira da piscina, os destinos de cinco adolescentes se conectam. Aquele encontro casual transforma-se em algo mais profundo, algumas amizades a florescer que prometiam aventuras e descobertas. Sob o crepúsculo alaranjado e o poente como testemunha, eles selam o compromisso de se reencontrar na próxima semana, prontos para se entregarem à batida eletrizante de uma rave repleta de magia.

Capítulo 1 — Uiaras cantantes

Uma semana depois, todos, com exceção de Leka e de Fabiana, comparecem à chácara de Sabrina. Leka combinou de ir mais tarde, seus pais a levariam depois do jantar especial em família. Portanto, os amigos estão esperando apenas a enrolada da Fabiana. Já estão todos dentro do confortável e impecável carro da mãUma semana depois, todos, com exceção de Leka e de Fabiana, comparecem à chácara de Sabrina. Leka combinou de ir mais tarde, seus pais a levariam depois do jantar especial em família. Portanto, os amigos estão esperando apenas a enrolada da Fabiana. Já estão todos dentro do confortável e impecável carro da mãe de Lúcio.

Esperaram um bom tanto, mas finalmente a atrasada chega de táxi. A desculpa é porque ficou a tarde toda se emperiquitando no salão e escolhendo a roupa que iria usar num chão de terra.

— Caramba, Fabi, você, como sempre, atrasada! A mãe do Lúcio não tem o dia todo para ficar esperando, além de ela nos dar carona, você abusa! E além do mais, já que veio de táxi, por que não foi direto para lá? — notou Sabrina inconformada.

— Não! Eu jamais chegaria sozinha na primeira vez! A gente combinou de irmos todos juntos!

— Relaxa, Sabrina, minha mãe não está com pressa e a Fabiana não demorou tanto assim... — apaziguou Lúcio.

— Não... Se fossem cinco minutos, eu não falaria nada, ela se atrasou 26 minutos e 50 segundos — detalhou Sabrina.

— Nossa! Por que não contou os microssegundos também para ser mais exata? — ironizou Fabiana.

— Tá bom, gente! Eu que tive que esperar, não reclamei! Então parem de confusão antes do rolê começar! — concluiu a mãe de Lúcio.

***

Eles chegam ao local da rave, a famosa Chácara da Biga. Na verdade, o terreno era maior, um sítio, mas por ficar próximo a várias chácaras manteve o título aconchegante dos terrenos vizinhos. As criaturas juvenis descem do carro e a mãe de Lúcio nem os esperou conferir se ali seria o local da festa, pisa fundo no acelerador e desaparece.

— Nossa, Lúcio, sua mãe não quis nem se despedir e verificar se o local era adequado pra nossa idade… — observou Sabrina.

— O Lúcio e a mãe dele estão brigados — fofocou Carla.

— Se vocês estão brigados, por que ela nos trouxe aqui? — perguntou Fabiana.

— Minha mãe faz tudo o que quero agora! Eu descobri que ela tem amante, então a chantageio, se ela não fizer o que quero, conto tudo para meu pai…

— Que filho ingrato, você! — considerou Sabrina — agora entendi porque sua mãe esperou a atrasilda da Fabiana sem reclamar…

— Ingrata foi ela por trair meu pai!

— Só por você não ter contado a ele, você já o traiu também, não se faça de moralista, querido! — disse Fabiana. — E digo mais; você é uma minicobra! Preciso aprender mais contigo, quero ser tua amiga!

— Chega de papo furado, gente, ouça esse som bombando, vamos entrar logo e aproveitar! — concluiu Carla.

Eles olham para a porteira, do lado de fora há algumas pessoas que ainda não entraram, também um funcionário cobrando os convites e dois seguranças, sendo um homem enorme e robusto e uma mulher igualmente grande, os dois vistoriavam as pessoas que estavam prestes a entrar. Na entrada do sítio, há um pomar cortado por um largo caminho de terra batida que forma uma alameda e leva a um gramado aberto onde a festa acontece.

— Olha, gente! Quanta manga madura! — observou Sabrina.

— Pobre não pode ver um pé de fruta que já quer merendar — zombou Fabiana.

— Ô louco, Fabiana! Tá tirando sua prima assim! — comentou Lúcio.

— Ela não quis somente dizer “pobre”, ela quis dizer “gorda”! Não precisa fingir ou trocar as palavras, Fabi. Eu sei muito bem do meu peso! Mas pelo menos eu como frutas e legumes… e você que só come iogurtinho e bolacha recheada!

— Chega! Vocês duas se dizem amicíssimas, mas só brigam! Eu, hein! Vamos logo e chega de treta! — ordenou Carla.

***

Caminham pela alameda e na clareira rola o batidão. É a primeira vez que estão numa rave. Com passos hesitantes de exploradores num novo ambiente, eles atravessam o portal daquela que prometia ser uma festa memorável. Os seus olhos, inicialmente ofuscados pela súbita explosão de cores, logo se adaptam ao espetáculo. Diante deles, uma galera dança em frenesi. O coração de cada um bate em sincronia com a batida da música eletrônica, criando uma conexão única com aquele ambiente boêmio. Sem contar aquele inconfundível cheiro de balada que impregna nas nossas narinas, com mistura de perfumes, desodorantes, cheiros corporais, cigarro, uma pitada de Cannabis e a clássica fumaça com aroma de chiclete que sai da máquina para enevoar o ambiente.

A pista de dança é o próprio gramado aberto. No quiosque, que fica à esquerda da clareira se você observar a partir da alameda, está o DJ e sua parafernália; à direita, há um barracão cerrado por tapumes onde fica o bar improvisado com freezers limitando o espaço e servindo de balcão, e ainda sobra um espaço para fazer mais uma festa sob aquele telhado. Além disso, se chovesse, aí poderiam os açucarados se abrigar. Externamente na lateral do barracão, ficam os banheiros químicos. Para trás da clareira, há um palco de concreto onde ocorrem shows em outras ocasiões na chácara. Mais atrás do palco, um alto muro se ergue, trepado por heras, separando a parte residencial do sítio.

No embalo da festa, tanta gente passando, chega Leka que antes de vir à balada, teve que sair com os pais. Mal podem todos se ouvirem, então cumprimentam-se com gestos, abraços e cochichos nos ouvidos.

Eles vão curtindo e se soltam na pista de dança, enchendo o espaço com risos e movimentos coreografados e às vezes pegando alguma bebida no bar. A música é intensa e no centro da rave, o DJ comanda as batidas eletrônicas com empolgação. A música reverbera no ar como uma força hipnótica e as luzes sincronizam-se com o ritmo, banhando a multidão em cores vibrantes, enquanto todos entregam-se ao êxtase da melodia pulsante. O som inebriante unifica corpos em movimentos frenéticos, criando uma sinfonia de energia pura que faz o tempo desaparecer.

Após algumas músicas, eles decidem fazer uma pausa e se dirigem ao bar para pegar suas bebidas, ansiosos por recarregar as energias e continuar a diversão. Sabrina, Fabi e Leka pegam bebidas não alcoólicas, porém, Lúcio e Carla estão bebendo cervejas e drinques.

— Gente, aproveite que vamos virar a noite aqui e deem uma bicadinha nos drinques, o pessoal daqui faz umas batidas muito boas — comentou Carla.

— Ninguém vai notar que somos menores de idade? — perguntou Sabrina.

— Vocês também não poderiam estar aqui, mas conseguiram entrar… — lembrou-a Lúcio — ...pois então, vocês podem tudo aqui na rave!

Elas então correm para pedir um drinque de frutas vermelhas com vodca, exceto Leka que não queria bebida alcoólica, porém, Fabiana volta com uma taça a mais do drinque igual ao seu para a nova amiga. As três brindam com as taças contendo o hipnótico líquido vermelho e depois brindam com as latas de cerveja de Lúcio e Carla.

Sabrina, Carla e Lúcio resolvem voltar ao gramado, porém Fabi acompanha Leka até a porta do banheiro.

***

Quando elas retornam ao bar, pedem um drinque diferente. Enquanto a bebida é feita por uma moça, dois rapazes estão no outro canto do “balcão”, de olho nas meninas e de conversinhas e sorrisos.

— Saca só, Fabi, tem dois caras ali de olho na gente.

— É mesmo! — disse Fabiana observando-os um pouquinho mais e conclui. — E são muito gatos! Tomara que não sejam pobres!

Elas não saem do lugar, mas, Thanira, a funcionária do bar traz um bilhetinho na mão e avisam as garotas:

— Meninas, os garotos ali pediram para eu entregar este bilhete.

— O que está escrito? — perguntou Fabiana.

— Não li, não é da minha conta! — respondeu Thanira.

“VOCÊS SÃO MUITO GATAS,

ASS: RAFA E VITÃO.”

Elas riem do bilhete e mandam um tchauzinho e piscadelas para os dois.

Rafael, vulgo Rafa, é um rapaz sorridente, o que o torna bonito, mas seu olhar dissimulado engana os menos atenciosos, além disso, parece ser menos picareta que o seu amigo, Vitão.

Vitão é mais corpudo e também mais baixo, sua face é rude por conta das sobrancelhas grossas e a cara fechada, mas a franja comprida penteada de lado e o sorrisinho de canto fazem derreter-se quem o vê.

Ambos os rapazes já são maiores, entretanto, eles ambicionam essas garotas pois estão certos de que elas já estão no papo! Quando menos se espera, os quatro estão frente a frente.

— Olá, rapazes, eu sou a Leka e essa é minha amiga, Fabi — disse com um sorriso nos lábios, nos olhos e na alma.

— E aí, gata, eu sou o Vitão — cumprimentou já beijando o rosto das meninas.

— Oi, princesas, eu sou o Rafa — disse imitando o amigo.

E Vitão faz a pergunta mais clichê do xaveco mais furado de todos os tempos:

— Então, vocês vêm sempre aqui?

— É a primeira vez — respondeu Leka.

— Primeira vez? Já tô gostando do assunto — respondeu vilmente Rafael, contudo, todos relevam com gargalhadinhas, normalizando a situação.

Eles batem um papo, mas Leka quer uma conversa particular com a amiga:

— Com licença, meninos, vou trocar uma ideia a sós com minha amiguita.

As duas dão uma distância e Leka comenta toda esbaforida:

— Amiga, estou a fim do magro, já rolou um clima entre nós.

— E por que eu tenho que ficar com o gordo?

— Ele não é gordo, é até fortinho, tem carnes para pegar, saca esse popô redondinho…

Não teve como as duas não darem aquela olhada rápida.

— Pode ser, você é uma vareta alta tem que ficar com o bambu mesmo! Vou ficar com meu ursinho carinhoso!

— Arrasou! Vamos chegar e beijar esses rapazes que nem têm atitude!

Os flertes intensificam-se e ocorrem os beijos. Os rapazes ficam muito envolvidos e pagam bebidas para as meninas com intuito de embebedá-las. Porém, elas também querem ficar perto dos amigos e apresentam os novos ficantes ao grupo e eles curtem aquela balada todos juntos.

***

Diz-se que a felicidade nasceu de um sorriso, que é feito pela boca que completa olhos e narizes, que sem ela, não seríamos felizes. O beijo também é feito pela injusta boca que traz a felicidade, mas também faz sofrer.

e de Lúcio.

Esperaram um bom tanto, mas finalmente a atrasada chega de táxi. A desculpa é porque ficou a tarde toda se emperiquitando no salão e escolhendo a roupa que iria usar num chão de terra.

— Caramba, Fabi, você, como sempre, atrasada! A mãe do Lúcio não tem o dia todo para ficar esperando, além de ela nos dar carona, você abusa! E além do mais, já que veio de táxi, por que não foi direto para lá? — notou Sabrina inconformada.

— Não! Eu jamais chegaria sozinha na primeira vez! A gente combinou de irmos todos juntos!

— Relaxa, Sabrina, minha mãe não está com pressa e a Fabiana não demorou tanto assim... — apaziguou Lúcio.

— Não... Se fossem cinco minutos, eu não falaria nada, ela se atrasou 26 minutos e 50 segundos — detalhou Sabrina.

— Nossa! Por que não contou os microssegundos também para ser mais exata? — ironizou Fabiana.

— Tá bom, gente! Eu que tive que esperar, não reclamei! Então parem de confusão antes do rolê começar! — concluiu a mãe de Lúcio.

***

Eles chegam ao local da rave, a famosa Chácara da Biga. Na verdade, o terreno era maior, um sítio, mas por ficar próximo a várias chácaras manteve o título aconchegante dos terrenos vizinhos. As criaturas juvenis descem do carro e a mãe de Lúcio nem os esperou conferir se ali seria o local da festa, pisa fundo no acelerador e desaparece.

— Nossa, Lúcio, sua mãe não quis nem se despedir e verificar se o local era adequado pra nossa idade… — observou Sabrina.

— O Lúcio e a mãe dele estão brigados — fofocou Carla.

— Se vocês estão brigados, por que ela nos trouxe aqui? — perguntou Fabiana.

— Minha mãe faz tudo o que quero agora! Eu descobri que ela tem amante, então a chantageio, se ela não fizer o que quero, conto tudo para meu pai…

— Que filho ingrato, você! — considerou Sabrina — agora entendi porque sua mãe esperou a atrasilda da Fabiana sem reclamar…

— Ingrata foi ela por trair meu pai!

— Só por você não ter contado a ele, você já o traiu também, não se faça de moralista, querido! — disse Fabiana. — E digo mais; você é uma minicobra! Preciso aprender mais contigo, quero ser tua amiga!

— Chega de papo furado, gente, ouça esse som bombando, vamos entrar logo e aproveitar! — concluiu Carla.

Eles olham para a porteira, do lado de fora há algumas pessoas que ainda não entraram, também um funcionário cobrando os convites e dois seguranças, sendo um homem enorme e robusto e uma mulher igualmente grande, os dois vistoriavam as pessoas que estavam prestes a entrar. Na entrada do sítio, há um pomar cortado por um largo caminho de terra batida que forma uma alameda e leva a um gramado aberto onde a festa acontece.

— Olha, gente! Quanta manga madura! — observou Sabrina.

— Pobre não pode ver um pé de fruta que já quer merendar — zombou Fabiana.

— Ô louco, Fabiana! Tá tirando sua prima assim! — comentou Lúcio.

— Ela não quis somente dizer “pobre”, ela quis dizer “gorda”! Não precisa fingir ou trocar as palavras, Fabi. Eu sei muito bem do meu peso! Mas pelo menos eu como frutas e legumes… e você que só come iogurtinho e bolacha recheada!

— Chega! Vocês duas se dizem amicíssimas, mas só brigam! Eu, hein! Vamos logo e chega de treta! — ordenou Carla.

***

Caminham pela alameda e na clareira rola o batidão. É a primeira vez que estão numa rave. Com passos hesitantes de exploradores num novo ambiente, eles atravessam o portal daquela que prometia ser uma festa memorável. Os seus olhos, inicialmente ofuscados pela súbita explosão de cores, logo se adaptam ao espetáculo. Diante deles, uma galera dança em frenesi. O coração de cada um bate em sincronia com a batida da música eletrônica, criando uma conexão única com aquele ambiente boêmio. Sem contar aquele inconfundível cheiro de balada que impregna nas nossas narinas, com mistura de perfumes, desodorantes, cheiros corporais, cigarro, uma pitada de Cannabis e a clássica fumaça com aroma de chiclete que sai da máquina para enevoar o ambiente.

A pista de dança é o próprio gramado aberto. No quiosque, que fica à esquerda da clareira se você observar a partir da alameda, está o DJ e sua parafernália; à direita, há um barracão cerrado por tapumes onde fica o bar improvisado com freezers limitando o espaço e servindo de balcão, e ainda sobra um espaço para fazer mais uma festa sob aquele telhado. Além disso, se chovesse, aí poderiam os açucarados se abrigar. Externamente na lateral do barracão, ficam os banheiros químicos. Para trás da clareira, há um palco de concreto onde ocorrem shows em outras ocasiões na chácara. Mais atrás do palco, um alto muro se ergue, trepado por heras, separando a parte residencial do sítio.

No embalo da festa, tanta gente passando, chega Leka que antes de vir à balada, teve que sair com os pais. Mal podem todos se ouvirem, então cumprimentam-se com gestos, abraços e cochichos nos ouvidos.

Eles vão curtindo e se soltam na pista de dança, enchendo o espaço com risos e movimentos coreografados e às vezes pegando alguma bebida no bar. A música é intensa e no centro da rave, o DJ comanda as batidas eletrônicas com empolgação. A música reverbera no ar como uma força hipnótica e as luzes sincronizam-se com o ritmo, banhando a multidão em cores vibrantes, enquanto todos entregam-se ao êxtase da melodia pulsante. O som inebriante unifica corpos em movimentos frenéticos, criando uma sinfonia de energia pura que faz o tempo desaparecer.

Após algumas músicas, eles decidem fazer uma pausa e se dirigem ao bar para pegar suas bebidas, ansiosos por recarregar as energias e continuar a diversão. Sabrina, Fabi e Leka pegam bebidas não alcoólicas, porém, Lúcio e Carla estão bebendo cervejas e drinques.

— Gente, aproveite que vamos virar a noite aqui e deem uma bicadinha nos drinques, o pessoal daqui faz umas batidas muito boas — comentou Carla.

— Ninguém vai notar que somos menores de idade? — perguntou Sabrina.

— Vocês também não poderiam estar aqui, mas conseguiram entrar… — lembrou-a Lúcio — ...pois então, vocês podem tudo aqui na rave!

Elas então correm para pedir um drinque de frutas vermelhas com vodca, exceto Leka que não queria bebida alcoólica, porém, Fabiana volta com uma taça a mais do drinque igual ao seu para a nova amiga. As três brindam com as taças contendo o hipnótico líquido vermelho e depois brindam com as latas de cerveja de Lúcio e Carla.

Sabrina, Carla e Lúcio resolvem voltar ao gramado, porém Fabi acompanha Leka até a porta do banheiro.

***

Quando elas retornam ao bar, pedem um drinque diferente. Enquanto a bebida é feita por uma moça, dois rapazes estão no outro canto do “balcão”, de olho nas meninas e de conversinhas e sorrisos.

— Saca só, Fabi, tem dois caras ali de olho na gente.

— É mesmo! — disse Fabiana observando-os um pouquinho mais e conclui. — E são muito gatos! Tomara que não sejam pobres!

Elas não saem do lugar, mas, Thanira, a funcionária do bar traz um bilhetinho na mão e avisam as garotas:

— Meninas, os garotos ali pediram para eu entregar este bilhete.

— O que está escrito? — perguntou Fabiana.

— Não li, não é da minha conta! — respondeu Thanira.

“VOCÊS SÃO MUITO GATAS,

ASS: RAFA E VITÃO.”

Elas riem do bilhete e mandam um tchauzinho e piscadelas para os dois.

Rafael, vulgo Rafa, é um rapaz sorridente, o que o torna bonito, mas seu olhar dissimulado engana os menos atenciosos, além disso, parece ser menos picareta que o seu amigo, Vitão.

Vitão é mais corpudo e também mais baixo, sua face é rude por conta das sobrancelhas grossas e a cara fechada, mas a franja comprida penteada de lado e o sorrisinho de canto fazem derreter-se quem o vê.

Ambos os rapazes já são maiores, entretanto, eles ambicionam essas garotas pois estão certos de que elas já estão no papo! Quando menos se espera, os quatro estão frente a frente.

— Olá, rapazes, eu sou a Leka e essa é minha amiga, Fabi — disse com um sorriso nos lábios, nos olhos e na alma.

— E aí, gata, eu sou o Vitão — cumprimentou já beijando o rosto das meninas.

— Oi, princesas, eu sou o Rafa — disse imitando o amigo.

E Vitão faz a pergunta mais clichê do xaveco mais furado de todos os tempos:

— Então, vocês vêm sempre aqui?

— É a primeira vez — respondeu Leka.

— Primeira vez? Já tô gostando do assunto — respondeu vilmente Rafael, contudo, todos relevam com gargalhadinhas, normalizando a situação.

Eles batem um papo, mas Leka quer uma conversa particular com a amiga:

— Com licença, meninos, vou trocar uma ideia a sós com minha amiguita.

As duas dão uma distância e Leka comenta toda esbaforida:

— Amiga, estou a fim do magro, já rolou um clima entre nós.

— E por que eu tenho que ficar com o gordo?

— Ele não é gordo, é até fortinho, tem carnes para pegar, saca esse popô redondinho…

Não teve como as duas não darem aquela olhada rápida.

— Pode ser, você é uma vareta alta tem que ficar com o bambu mesmo! Vou ficar com meu ursinho carinhoso!

— Arrasou! Vamos chegar e beijar esses rapazes que nem têm atitude!

Os flertes intensificam-se e ocorrem os beijos. Os rapazes ficam muito envolvidos e pagam bebidas para as meninas com intuito de embebedá-las. Porém, elas também querem ficar perto dos amigos e apresentam os novos ficantes ao grupo e eles curtem aquela balada todos juntos.

***

Diz-se que a felicidade nasceu de um sorriso, que é feito pela boca que completa olhos e narizes, que sem ela, não seríamos felizes. O beijo também é feito pela injusta boca que traz a felicidade, mas também faz sofrer.

Capítulo 2 — Na batida eletrizante

Você leu os 3 primeiros capítulos de "Apenas querem se divertir 2. Assuntos pendentes"

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